Ata da Sessão do Conselho Universitário da Bahia realizada em 29 de Outubro de 1964
Não houve o que ocorrer.
1. O Conselho reuniu para prestar uma homenagem ao Professor Manoel Ignácio de Mendonça Filho, recentemente falecido, o qual representava a Congregação da Escola de Belas Artes no referido Conselho.
2. O Magnífico Reitor explicou a finalidade da reunião, dizendo, a seguir que com o desaparecimento do Professor Mendonça Filho, perdia a Universidade um dos seus elementos mais destacados. Relembrou S. Magnificência que o homenageado companheiro, foi quase desde as primeiras horas, de Edgard Santos e conseguiu, com Edgard Santos, formar aquela equipe que conquistou a opinião da Universidade e levou a cabo a magnífica obra reconhecida por todos. Referiu-se também, à obra deixada pelo Professor Mendonça Filho, multiplicada nos seus quadros, e à sua bondade, reconhecida por todos e, especialmente pelos seus alunos, de quem foi sempre, conselheiro e amigo, proporcionando ensinamento e orientação que permitissem uma melhor solução para os problemas da mocidade. Finalmente disse o Magnífico Reitor que, ao invocar o companheiro desaparecido, queria prantear em seu próprio nome, em nome da Universidade e em nome do Conselho Universitário, a sua memoria que se tornará, sem duvidas, indelével na vida da Universidade da Bahia.
3. O Conselheiro Arnaldo Silveira, o qual, em nome da Congregação da Faculdade de Odontologia, se associou às justas homenagens prestadas ao saudoso Professor Mendonça Filho. Ressaltou, a seguir, as qualidades pessoais do extinto e lembrou que o seu nome engrandeceu não somente a Bahia, mas, também o Brasil, em razão da sua grande obra artística.
4. O Cons. Carlos Geraldo disse que a Faculdade de Medicina, por intermédio do seu Diretor, se associava à manifestação de pesar do Conselho em razão do Conselho em razão do falecimento do Professor Mendonça Filho, ex- Conselheiro, deferindo-se, também às qualidades pessoais do extinto.
5. O Conselheiro João Rescala, Diretor da Escola de Belas Artes proferiu as seguintes palavras: “Ainda sob o doloroso impacto do falecimento do colega Mendonça Filho, seus amigos e companheiros da Escola Artes continuam profundamente sentidos e penalizados com o rude golpe”. Comovidos, agradecemos a presente homenagem póstuma promovida pelo nosso Magnífico Reitor e o Egrégio Conselho Universitário, do qual, por largo tempo, o Prof. Mendonça Filho, teve a honra de participar com acentuado brilho e modéstia, própria ao seu temperamento de artista. A semelhança da maioria dos verdadeiros artistas, seu ideal maior consistia em ser unicamente pintor, o que ainda, apesar dos progressos havidos, é difícil no Brasil. Era um exaltado pela arte e pela vida, encantado pela natureza, interpretava-a com amor e exaltação revelados na violência de suas pinceladas em um cromatismo contrastante próprio de artistas de temperamento forte e irrequieto; características de sua personalidade. Pintor de filiação post- impressionista herdou do Impressionismo e desenvoltura e a pureza da cor aliando-as a um desenho amplo e estruturado, completavam uma fatura vigorosa que tão bem se adaptava à paisagem e costumes baianos. Mendonça Filho trouxe da Europa uma nova linguagem pictórica para a Bahia tradicionalista, habituada a uma visão barroca, acadêmica, de passado glorioso das suas artes plásticas. Foi uma mensagem nova sem preocupação hostil à tradição, mas uma contribuição ao seu revigoramento para um futuro progressista, exigente de novas visões estéticas. Como mestre, ofereceu a seus discípulos o melhor do que possuía da sua experiência de artista consumado e na sua maneira especial de transmitir o difícil ensino artístico com entusiasmo em incomum. Em boa hora, escolhido pela Congregação para Diretor, dedicou-se então à difícil tarefa de colocar a Escola no plano universitário. O Diretor absorveu de tal modo o pintor que em um largo período de 14 anos, não lhe restava mais tempo para pintar. Por temperamento, era sensível às novas manifestações artísticas, aceitava-as no que poderiam oferecer de mais positivo para a modernização do ensino. O seu desejo era dotar a Escola das condições necessárias que pudessem atender a sua natural evolução, no sentido coerente com o mundo moderno. Pelas suas disposições pessoais, tornou-se, em seu ambiente, um dos mais valiosos elementos da magnífica paisagem humana da Bahia. Exercia em seu melhor tempo uma posição da mais incontestada liderança artístico intelectual. Ao lado disto, cada um de nós que vivia em seu contato funcional ou simplesmente pessoal, tem uma historia particular, a contar um fato qualquer a referir. Particularmente devemos-lhe, em boa ocasião a nossa vida para esta hospitaleira terra. Não lhe foi difícil convencer a quem, a aquela altura, possuía um particular amor pelas artes, tradição e a beleza natural da Bahia. Mendonça Filho modificou o que nos parecia o curso natural do nosso destino, hoje estarmos definitivamente integrados na vida baiana. O que poderíamos dizer mais sobre o nosso pranteado amigo, o insigne Professor Manoel Ignácio Mendonça Filho, neste momento escrevemos estas linhas, amargurados, anestesiados pelo impacto dessa infelicidade, na certeza de que, jamais poderíamos dizer tudo da sua brilhante vida.
6. O Cons. Alceu Hitlner disse que a Escola Politécnica ao se associar às manifestações de pesar que se prestam ao Professor Mendonça Filho queria frisar que o convívio com o Professor Mendonça não se restringia ao âmbito deste Conselho. Declarou que antes da fundação da Universidade da Bahia os laços de ligação entre a sua Escola e a Escola de Belas Artes. Já existiam, podendo, diante daquele convívio, sentir cada dia as qualidades excepcionais do homem e do artista. O Cons. Adalício Nogueira disse que a Faculdade de Direito, pelo seu Diretor, manifestava a sua absoluta solidariedade às palavras com que o Magnífico Reitor acabava de homenagear a memória que sempre será muito cara, do Professor Mendonça Filho e que adotava as palavras aqui proferidas sobre as qualidades pessoais, intelectuais e artísticas que adornavam a personalidade do Professor Mendonça Filho.
7. O Cons. Magalhães Neto, em nome da Faculdade de Filosofia e por delegação do seu Diretor, Professor Thales de Azevedo, se associou às homenagens prestadas ao ex-Conselheiro Mendonça Filho, relembrando momento de vida do extinto, a sua ativa participação no movimento de renovação literária e artística, empreendido entre 1928 e 1933 por um grupo de homens de letras e artistas chefiados pela personalidade singular de Carlos Chiachio, e sua participação na criação e desenvolvimento inicial desta Universidade.
8. O Cons. Hernani Sobral, Diretor da Faculdade de Arquitetura proferiu as seguintes palavras: “Creio que este egrégio Conselho s reúne como poucas vezes se reuniu, em ambiente de piedade e melancolia. Não é meu encargo, agora, demorar a apreciação de uma obra artística em que rebrilha a claridade de uma imensa sensibilidade e em que se aproveitam as vantagens de uma larga experiência. Melhor faria um artista, mas seria impossível escapar-me no momento em que faço a síntese de tão raros predicados, o espirito forte e magnânimo do artista, capaz de amenizar a saudade de quem, vivendo longe, desejasse ter perto de si, um pouco desta terra, da luminosidade do nosso mar, do nosso céu, de nossas praias. Quero referir-me ao curso de Arquitetura, curso de onde nasceu a Faculdade, hoje emancipada, cada vez mais reconhecida, no entanto, a Belas Artes e sobretudo aqueles que lá, como Mendonça Filho aguardaram- na crescer. O homem simples, o homem inteligente, o homem bom, que numa destas cadeiras ajudara a fortalecer a Universidade, pela sua disposição e entusiasmo a que no bem de sua Escola a conduzia com denodo, essa figura vigorosa de lutador não existe mais. Viveu amargas lutas, mas teve, mas teve a felicidade de vê-la crescer. Conhecendo de bem perto o seu espirito, desejo homenageá-lo como um companheiro, caído em meio da luta, luta que é nossa, deste Conselho de todo espirito verdadeiramente universitário que é o de que se firma a comunhão de vida nos estudos – primeiro elemento indispensável para conceituação da Universidade”.
9. O Cons. Ivo Braga manifestou a solidariedade da Faculdade de Ciências Econômicas as homenagens prestadas ao Professor Mendonça Filho. Usando as palavra o Conselheiro Naomar Alcântara, presidente do Diretório Central dos Estudantes, disse que o corpo discente da Universidade da Bahia não poderia deixar de se associar às justas homenagens que se prestam à memoria do Professor Mendonça Filho, por dois grandes motivos. Primeiro porque ele se impôs ao respeito dos estudantes da Universidade da Bahia pela sua capacidade e pela sua competência como Professor e segundo porque ele se impôs ao coração dos membros universitários pelos laços de profunda amizade que o ligaram à classe estudantil. Disse que os universitários eram extremamente reconhecidos à obra desenvolvida pelo Professor Mendonça Filho junto ao Ministério da Educação no sentido de que os estudantes de Arquitetura estudassem numa Escola autônoma. Os Conselheiros Paulo Brandão, Ivete Oliveira, Adriano Pondé, Dirce Araújo e Queiroz Muniz, respectivamente pela Escolas de Geologia, Enfermagem, Nutricionistas, Farmácia e pelos Professores Docentes, associaram-se às homenagens de pesar pelo falecimento do Professor Mendonça Filho
10. Não havendo mais quem quisesse fazer uso da palavra, o Magnífico Reitor disse que entendia que era pensamento do Conselho que transmitisse à viúva do nobre companheiro falecido a expressão de saudade do mesmo Conselho, enviando-lhe a copia da Ata desta sessão especial que significava todo o pesar manifestado pela perda irreparável do saudoso Conselheiro. A seguir foi encerrada a sessão.